A morte é o vazio
Difícil de explicar
Complicado de
compreender
A morte e o vazio são
construídos de coisa nenhuma
E como pesam
Incoerentes e
insensatos
A morte chega com a naturalidade
Das coisas simples
E o peito palpita
E o coração sangra
Assustado
Mais uma viagem chegou
ao fim
A alma do carpinteiro
estava cansada quando se deitou
A morte aliviou-lhe a
passagem
Pelos estreitos
corredores
Projetou-a nas paredes
forradas
Num papel antigo
Onde estranhas cornucópias
douradas
Bailavam em palcos
verdes e azuis
A morte chegou
Sem avisar
Atravessou as frinchas
dos estores
Semiabertos
Atormentou o viajante
Que fixou os olhos no
teto do quarto
Antes de partir
A morte, primeiro
O vazio, depois
A visão do mar imenso a
surgir
Vertiginosamente
A morte chegou
O quarto ficou pequeno
As paredes moveram-se
Assim como a cama
estreita
Onde repousava de olhos
cerrados
Com a idade errada para
falecer
A morte arrefeceu-lhe o
corpo
A temperatura baixou
As angústias voaram
Desapareceram com as
dores
O ar
A visão
Ficou somente a luz
branca
E morna
Que o carpinteiro
recordou